terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Os peixinhos do Orkut

Olá para todos!
Hoje eu pretendo fazer algo que já estava na minha cabeca a um tempo, que é responder uma pergunta que me foi feita de uma forma muito interessante. E vou aproveitar para non somente responder ela da maneira que eu consideraria habitual, mas fazer de uma forma mais articulada e me dar a liberdade para alguns paralelismos e analogias, escrevendo por aqui.
Indo direto ao ponto, eu havia anunciado em minha mensagem pessoal do Orkut alguns dias atrás, a minha "sorte do dia", no alemao original, "vergiss und vergib". O Orkut algumas vezes posta, dentre as comuns mensagens piegas, algumas mensagens que me fazem refletir (non que isso faca delas menos piegas, mas às vezes eu acabo pensando sobre ela querendo ou non) sobre seu significado, e essa foi uma delas, já que eu vinha já refletindo tanto sobre temas de esquecer e temas de perdoar nos últimos tempos (quem acompanhou o último blog viu apenas uma novela de reflexoes relacionadas a isso). E si, "vergiss und vergib" significa "esqueca e perdoe", como vocês já provavelmente sacaram.
Daí uma garotinha do meu Orkut fez a pergunta óbvia para todos que olharam para a minha mensagem e pensaram alguma coisa a respeito. Enquanto muitos pensaram que eu devia ser mais claro e se indagaram quanto a porque diabos eu escrevo algo em alemao quando a maioria do meu Orkut non sabe isso, e outros já chegaram a suas próprias conclusoes a respeito e apenas vivem felizes com elas, algumas pessoas ainda se apegam à simplicidade de perguntar "o que isso significa?".
Eu acho curioso analisar a forma como as pessoas usam as redes sociais e como elas se comunicam, e o Orkut foi a primeira rede social que conheci e a primeira que o Brasil de fato assimilou. A grande maioria dos meus amigos e da populacao jovem em geral tem uma conta no Orkut e é muito legal notar as curiosidades da rede. Uma das coisas mais estereotipizadas que se diz a respeito do Orkut (e foi dito desde o início de sua existência) é que é um vício absolutamente inútil. Como grande parte dos estereótipos, tem uma funcao comunicativa bem mais voltada para resumir usando o senso comum uma questao que non interessa muito de forma a criar assunto, e como grande parte dos estereótipos, foi levado a sério por muita gente que non pensou que talvez non seja bem assim. O Orkut tem várias funcoes, e eu non conheco nenhum infeliz que de fato usa o Orkut em sua plena extensao. Mas acho que já é algo premeditado aos criadores do Orkut que non se espera que as pessoas de fato usem individualmente todas elas. O Scrapbook a princípio tem a simples funcao de funcionar como o que o próprio nome indica, um mural de recados aonde as pessoas trocam informacoes. É provavelmente bem claro que essa funcao se voltaria principalmenta para fofocas de vários tipos. Tanto pessoas que falam dos outros, como pessoas que falam do que tá rolando em sites de notícia, como pessoas que falam das coisas que foram lidas no Scrapbook do outro. Fotos, comunidades, o Orkut foi a primeira forma que os brasileiros encontraram de se enganerem a respeito do quanto os outros se importam com eles, passando horas de vários dias esperando saber o que o outro achou da última atualizacao do profile, das últimas fotos colocadas, da última mensagem enviada, de como as comunidades em que entrou tem repercutido. Foi também uma forma para alguns brasileiros de conhecerem uns aos outros superficialmente sem ter que puxar assunto, ou uma forma de facilitar esse assunto, devido às comunidades compartilhadas, as informacoes expostas mais facilmente e simplesmente fotos de perfil ou amigos em comum.
Mas definitivamente, o vício que isso gerava, as horas gastas no trabalho de construir um perfil que pudesse fazer com que alguém se interessasse em perguntar o que a gente queria, ou apenas em conseguir filtrar algo de útil no papo alheio, ou em ver os efeitos deixados por mensagens mais ou menos galantes, isso tudo foi algo bem marcante, e que definiu o Orkut como um mal necessário, quase uma droga.
Essa definicao é bem antiga, se vocês notarem, uma vez que o Orkut passou por várias atualizacoes, e principalmente, o mundo também. A internet mudou e as pessoas mudaram, e o Orkut com certeza fez parte desse crescimento, e impôs várias necessidades novas nos navegadores da web. O advento do Facebook foi no entanto a primeira vez que de fato o Orkut foi golpeado de forma irreversível. O Facebook tem uma lógica de funcionamento bem diferente do Orkut, que é muito mais dinâmica. Enquanto o Orkut enfatiza a construcao de uma personalidade virtual, de um segundo eu, com milhares de comunidades, milhares de scraps, milhares de amigos e fotos e vídeos e descricoes e formulários e o caralho a quatro, o Facebook non se preocupa com nada disso. Ele oferece si, todas essas possibilidades do Orkut, mas com a dinâmica do Twitter e de forma muito mais prática. O que há de mais durável no Facebook é o álbum de fotos, e ele é a única forma de alimentar algo antigo no Facebook e ter nostalgia ao admirar antigos comentários. No Facebook as pessoas focam em comentar impressoes e reflexoes do dia a dia, como um mini diário de coisas inúteis, e compartilhar o que foi achado na internet. Essas nossas impressoes sao jogadas num grande rio de atualizacoes dos amigos, e a utilidade disso tudo é comentar e mostrar sua impressao do que foi dito pelos outros. Devido a isso, o que non chama a atencao fica pra trás e é esquecido. A cultura de resgatar o que foi dito ou reler algo, ou rever um vídeo é bem mais difícil de se propagar lá, uma vez que passadas as impressoes, tudo vai eventualmente ser tragado pelo eterno fluxo das atualizacoes do FB.

E é engracado como isso me trás de volta à pergunta que a minha amiguinha do Orkut me havia feito. Uma pessoa que ainda usa o Orkut em sua atual tentativa de se adaptar à concorrência do FB é, para mim, algo muito surpreendente. Non o usar o Orkut, mas...agora que muitos migraram para o Facebook, receber um comentário de alguém sobre algo que agora parece tao banal e ordinário como uma atualizacao do Orkut tem um sabor especial. Assim como conversar com alguém através da Truth Box do Orkut, ou apenas ser notado.
O mundo se encheu de um dinamismo que fez as coisas parecerem muito iguais e colocou muito sob perspectiva. Acho que eventualmente as pessoas do mundo das exatas que odeiam história vao sacar que isso é um micro modelo de como é interessante sacar a perspectiva da mudanca e do contexto de cada coisa.

Na minha opiniao, acho que é importantíssimo lembrar sempre. Sem a memória, o perdao non tem valor algum. A memória traz o toda a sabedoria que se acumulou em nossas experiências, e mesmo aquilo que parece bobo tem algum valor. Assim como mesmo aquilo que parece super importante, na verdade nem é lá tao incrível. É importante saber reconhecer o valor de tudo para saber se adaptar a qualquer coisa. E ser feliz de verdade. O esquecer só tem importância pra mim quando entoado como uma forma de relativizar o que foi sentido uma hora com o que foi sentido em outra hora, e perceber que algo que se assumiu como definitivo talvez seja melhor reconsiderado. E sério, isso me lembra muito os conselhos de Maquiavel sobre como as pessoas de Virtù sao as que melhor sabem lidar com esse grande rio caudaloso chamado de Fortuna.

Lets Go entao, felizes como peixinhos que somos no rio da vida =)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Mas o que que rola?

Mais um blog que crio, seguindo a recomendacao já de tempos atrás de uma pequena garota muito querida, dessa vez finalmente tendo um blog que alia a simplicidade de poder postar fotos e textos, com a habilidade incrível de poder receber comentários xD Mas vou apenas continuar as postagens do meu blog do Terra, entao, moving on....

Eu estava a conversar com minha amiguinha Janis ontem a noite pelo msn quando foi abordado o tema de como esse ano de 2011 representa para nós dois um ano de reconstrucao. A análise que eu tinha feito foi primeiramente com base na filosofia védica dos ciclos de criacao, permanência e destruicao, e assim, constatamos que depois de escolhermos caminhos e seguirmos por eles por um tempo, chegamos a um ponto de conhecimento, análise e constatacao que nos fez repensar todo o caminho. E quando ela me perguntou sobre a quantas andava a minha vida, minha explicacao fluiu tao bem que eu acho que se eu non tivesse falado talvez nem eu mesmo tivesse agora tanta clareza sobre as fases da minha vida. Por isso, decidi que vou reaproveitar grandemente essa minha resposta aqui para contar um pouquinho da minha história recente =)
"Esse ano que passou agora foi um ano cheio. eu cresci muito, mas de uma forma horrivelmente doída. Tentei muita coisa, foi meu primeiro ano de faculdade, entrei em contato com muita coisa, sinto que fiz muito mas que eu segui no automático. Non sinto que eu estava no comando.
Sabe, a muito tempo eu queria entrar na faculdade de ciências sociais. MUITO. E eu sou uma das pessoas que mais tinha bem planejado o que ia fazer por lá, e uma das que tinha mais estudado a faculdade e minhas perspectivas antes, pra non me iludir com caminhos errados da universidade.
Mas o término atribulado de meu namoro me tirou completamente dos meus eixos, e acho que apenas segui no piloto automático de tais planos. Eu segui, e acho que até devo ter acertado muita coisa que fiz, mas parece que non fui eu... Sinto como se o ano tivesse passado de forma meio vaga. Porque non importa o quanto eu sentisse que era importante eu falar com tal professor foda em tal assunto, eu fazer uma aula de kung fu, eu encomendar um instrumento, eu procurar um emprego, eu estudar muito tal assunto, nada disso realmente parecia importante de verdade.
E exatamente porque muito do que eu quis, e muito do que eu era ao chegar na faculdade estava ainda conectado fortemente a ela. E quando basicamente a conexao foi cortada a machadadas sem anestesia, e ainda ficaram alguns tendoes pendendo, eu tive um trabalho forte em tentar descobrir o que eu tinha ou non que separar ou tentar inutilmente curar. Ano passado passou nisso, em eu descobrir o que investir ou non. E agora que sinto que o trauma está aliviando mais, defini que essas férias seriam para mim. Non interessava mais nada, eu queria essas férias pra me preocupar SÓ comigo e com me descobrir, o que eu sou, do que eu gosto, o que eu quero fazer, de quem eu gosto, porque eu faco o que faco, essas coisas. E acho que está sendo bem proveitoso."

Bem, foi isso que eu conversei. Fiquei impressionado mesmo foi com a velocidade com que falei o que estava na minha cabeca por tanto tempo...De fato, nessas férias voltadas a mim mesmo, eu non quis viajar. Quis ficar aqui em BH de boa, sem pressa, sentindo a mim mesmo, as minhas reacoes e emocoes ao que está ao meu redor, sentindo o tempo passar...Sentindo, em poucas palavras. As muitas chuvas, as músicas, o saltério sendo lentamente montado e afinado, o recém iniciado treinamento de Wing Tjun, as leituras retomadas de livros, o projeto da gibiteca....Todas essas pequenas coisas de pequena importância receberam toda a importância, a importância de serem as únicas preocupacoes das minhas férias, além de sair vez ou outra ou jogar videogame, dormir e comer. E é isso que tem me feito bem, e tem me feito mais feliz por me trazer tanto práticas como experiências virtuosas. A sabedoria daí proveniente é a que eu preciso de fato para seguir um caminho de vida do qual eu non me arrependa, e acho que é disso que a vida se trata.
Beijubas para todos, e até mais!